sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DE MARIO QUINTANA



DA VEZ PRIMEIRA EM QUE ME ASSASSINARAM...






Da vez primeira em que me assassinaram


Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...


Depois, de cada vez que me mataram,


Foram levando qualquer coisa minha...




E hoje, dos meus cadáveres, eu sou


O mais desnudo, o que não tem mais nada...


Arde um toco de vela, amarelada...


Como o único bem que me ficou!




Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!


Ah! Desta mão, avaramente adunca,


Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!




Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!


Que a luz, trêmula e triste como um ai,


A luz do morto não se apaga nunca!






Mario Quintana (A Rua dos Cataventos, 1940)








DE LA PRIMERA VEZ QUE ASESINARON...






De la primera vez que asesinaron


Perdí aquel sonreír que yo tenía...


Después, de cada vez que me mataron,


Fueron llevando alguna cosa mía...




Y hoy, de mis cadáveres, yo soy


El más desnudo, quien no tiene nada...


Arde un cabo de vela, adelgazada...


¡Como el único bien que me quedó!




¡Venid, cuervos, chacales en manada!


¡Ah! De esta mano, avaramente adusta,


¡Nadie me arrancará la luz sagrada!




¡Nocturnas Aves! ¡Alas de Desdicha!


La luz, trémula y triste como un ay,


¡La luz del muerto no se apaga nunca!






Mario Quintana (A Rua dos Cataventos, 1940)


(Versión de Pedro Casas Serra)



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